Nas últimas duas décadas, a Netshoes, hoje o maior site de artigos esportivos da América Latina, suou a camisa para se tornar a primeira startup brasileira a atingir o valor de US$ 1 bilhão. A empresa 100% digital nasceu num estacionamento em frente à universidade Mackenzie, em São Paulo, com planos muito ambiciosos. Ao abrir o seu capital na Nasdaq, em 2017, alcançou um valor de mercado de US$ 800 milhões, embora nunca tivesse dado lucro. O projeto do fundador Marcio Kumruian era ter grandes fundos e investidores como sócios. Assim, mesmo operando no vermelho, conseguiria financiar o crescimento acelerado dos negócios.

Deu certo, mas depois de um curto período de lua de mel com o mercado, as ações da empresa começaram a derreter. Hoje a Netshoes é avaliada em US$ 65,8 milhões, menos de 10% do que já valeu um dia. A reviravolta demonstrou que a estratégia de Kumruian não convenceu os investidores. A frustração surgiu com a diversificação excessiva, responsável pelo encalhe de vários produtos, o que afetava plano de crescimento traçado e elevava o endividamento, mesmo com o alto fluxo de caixa.

Com as ações a preço de banana e com dificuldades de financiamento, a empresa está em situação delicada. Para não correr o risco de desaparecer, a saída é a venda da operação – o banco americano Goldman Sachs foi contratado para ajudar a achar um comprador. Kumruian, que tem cerca de 12% do capital da empresa, pretende manter parte das ações. No entanto, pelo porte dos principais concorrentes na disputa pela Netshoes, é difícil acreditar que ele continuará no comando do negócio. Já estiveram no páreo o Mercado Livre, a Centauro (que acaba de abrir capital) e o fundo de investimentos Advent.

A disputa agora está restrita ao Magazine Luiza e à B2W, dona das marcas Submarino, Americanas e Shoptime. Ambas possuem ações na bolsa brasileira B3 e já demonstraram interesse na compra da Netshoes. Agora, devem iniciar logo o processo de análise de ativos e passivos (due diligence). Jean-Paul Rebetez, sócio-diretor da GS&Consult, especializada em varejo, avalia a Netshoes como uma grande pioneira do e-commerce brasileiro. “A empresa construiu um mercado até então quase inexistente no Brasil”, explica. “Mas, para fazer isso, precisou investir muito em marketing, tecnologia e adotou medidas que consumiram o seu caixa, como dar frete grátis e devolução de tênis comprados por clientes descontentes”. À medida que o faturamento crescia, também aumentavam as perdas. Vender mais passou a dar prejuízo. “A empresa pagou o preço do pioneirismo”, conclui Rebetez.

O mercado dá como certo que a operação de compra acontecerá – desde que Marcio Kumruian abra mão do controle da operação. “Ele é um dos empresários mais vaidosos do mercado digital, e essa vaidade já atrapalhou consideravelmente os rumos da companhia”, diz uma fonte ligada à empresa. “Se ele aceitar ser minoritário, o resto se resolve.” Entre os problemas de gestão apontados por ex-funcionários ouvidos pela DINHEIRO, a dificuldade de admitir erros de estratégia é um dos principais. Além dos rumores de que Kumruian apadrinha executivos que não trazem resultados e aumentam o prejuízo com a compra de artigos de pouca demanda que ficam nos estoques.

Leia a matéria na íntegra em: IstoÉ Dinheiro

 

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