A B2W (dona de Americanas.com, Submarino, Shoptime e Sou Barato) entrou no disputado mercado de vendas de produtos importados pela internet, o chamado comércio cross-border, numa estratégia para duelar com gigantes como eBay e AliExpress. Sem alarde, no dia 19 deste mês, o site da varejista ganhou a opção de compras Americanas Mundo, que permite ao consumidor adquirir mercadorias de empresas estrangeiras, segundo consta em relatório do BTG Pactual. Inicia as operações com um sortimento de 200 mil itens. A meta, contudo, aponta o levantamento, é bater dez milhões de produtos comercializados até o fim de 2019 e alcançar R$ 5,7 bilhões em vendas brutas em 2025.
O cálculo do BTG, classificado pelo banco como conservador, avalia que as vendas brutas do marketplace internacional — por ora composto de fornecedores de Estados Unidos e China — equivaleria a 8% das vendas brutas totais da B2W em 2025. Com a divulgação das informações, os papeis da B2W registram alta de 1,68% na Bolsa nesta segunda-feira, fechando cotados a R$ 12,65.
O Americanas Mundo, que oferece itens em segmentos como relógios, eletrônicos, automotivo e brinquedos, ainda não permite ao consumidor incluir produtos dessa nova modalidade de e-commerce na mesma cesta de compras da Americanas.com. Embora o reltório do BTG afirme que as entregas seriam feitas em um prazo de até 30 dias sem custo ou em até sete dias, com entrega feita por uma outra empresa, o site alerta que os itens levam de dez a 50 dias para chegar ao comprador.
O valor do frete, quando contratado de outro fornecedor que não os Correios, é calculado caso a caso. Enquanto o imposto de importação, o recolhimento de ICMS e um eventual gasto com despacho postal ficam a cargo do consumidor, que deve acompanhar o percurso do produto adquirido pelo site. Os produtos com preço de até US$ 50 estão isentos de taxas.
A B2W, avalia o relatório do BTG, tem três razões principais para ser bem-sucedida na nova operação. A companhia conta com forte tráfego de usuários, ampla oferta de itens e foco em entregar uma experiência de qualidade ao consumidor. É passo acertado em um mercado que deve triplicar de tamanho nos próximos anos, diz o levantamento.
A companhia encerrou o terceiro trimestre de 2018 com prejuízo de R$ 105,8 milhões, aprofundando a perda de R$ 88 milhões registrada em igual período do ano anterior. O total de vendas on-line, no entanto, avançou para R$ 3,6 bilhões, alta de 23,7%. Se o recorte de resultado for apenas pelo desempenho do marketplace, o total bateu R$ 1,89 bilhão, salto de 64,5%.
Concorrência com grandes não é fácil
Alexandre van Beeck, sócio da GS&Consult, afirma que competir com as grandes do e-commerce internacional não é fácil, mas é o único caminho:
— É o caminho natural para os grupos que querem fazer frente a esse novo varejo. É preciso ampliar a atuação e trabalhar com as novas oportunidades. Não dá para seguir nesse jogo sem fazer esse movimento ou ficar esperando que outros concorrentes façam isso antes. O desafio da Americanas.com será encontrar uma forma de ter relevância frente a concorrentes como AliExpress ou Amazon.
Com base no conhecimento que a B2W tem do consumidor brasileiro, continua ele, a operação deverá colaborar para impulsionar o resultado da companhia futuramente.
Os gigantes desse setor têm grande pegada em comércio cross-border . A Amazon, que também já atua no Brasil, tem 30% de suas receitas geradas fora dos Estados Unidos. Já no caso do Alibaba, menos de 10% dos ganhos vêm de fora da China.
Foi justamente o grupo chinês que dominou esse segmento de e-commerce no Brasil em 2017, segundo o BTG. Naquele ano, 22,5 milhões de brasileiros compraram em sites internacionais, sendo que 54% deles escolheram o AliExpress. No total, as vendas nesse negócio cross-border somaram US$ 2,7 bilhões no país, avanço de 15% sobre 2016. O tíquete médio, contudo, caiu para US$ 37, ante US$ 35,7 um ano antes.
Procurada, a empresa ainda não retornou.
Leia a matéria original em: O Globo