Depois de um período de dificuldades, que envolveu relevante perda de participação de mercado e uma longa briga entre seus herdeiros, a centenária Pernambucanas se prepara agora para empreender sua maior expansão em décadas. A companhia vai fechar 2018 com a abertura de 28 novas lojas e prevê elevar o total de inaugurações para 32 no ano que vem. Para 2020 e 2021, a proposta é ainda mais ousada, com um total de 90 unidades.

Segundo o presidente da Pernambucanas, Sérgio Borriello, a empresa conseguirá colocar o pé no acelerador após um período de reorganização corporativa, que incluiu a decisão de encerrar a venda de eletrodomésticos, há dois anos. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, no entanto, mesmo com planos tão ambiciosos, a companhia ainda ficará longe do domínio que já teve do varejo brasileiro.

Em seu auge, a Pernambucanas chegou a ter mais de 700 lojas no País – e era conhecida por sua forte presença em cidades do interior. Mesmo com a recente retomada do crescimento, a empresa fechará 2018 com 336 lojas em nove Estados. Caso consiga entregar o crescimento estimado para os próximos anos, a companhia chegará a 458 unidades ao fim de 2021.

Embora os problemas da companhia tenham ficado mais evidentes nos últimos anos – entre 2014 e 2017, viu sua receita cair 25% -, a verdade é que as disputas internas da Pernambucanas se arrastam há décadas. O maior dos imbróglios, resolvido há pouco mais de um ano, começou em 1990, quando faleceu Helena Lundgren, neta do fundador da companhia, que à época era dona de 50% do negócio.

Na divisão dos bens, Helena priorizou a filha Anita Harley – ela ficou com metade de suas ações, enquanto o restante foi dividido entre os outros filhos, Anna Christina e Robert. Mas o testamento condicionava que a participação de ambos na empresa deveria ser administrada por Anita. Com a morte de Anna Christina e Robert – em 1999 e 2001, respectivamente -, iniciou-se uma disputa entre Anita, uma das mulheres mais ricas do País, e os sobrinhos, que perdurou até o ano passado.

Um acordo homologado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2017 determinou que Anita não poderia mais administrar a parte que cabia aos nove sobrinhos. Desta forma, Anita seguiu com seus 25% na Pernambucanas, o suficiente para continuar a maior acionista individual da varejista. Já os 25% de Anna Christina e Robert foram distribuídos entre os sobrinhos, que também receberam dividendos atrasados. Os 50% restantes da Pernambucanas pertencem a outros ramos da família.

Recuperação

Em 2017, a rede conseguiu manter sua receita estável, em cerca de R$ 2,8 bilhões, e viu seu lucro aumentar quase 250%, para R$ 203 milhões. O resultado foi atingido, segundo Borriello – que chegou à companhia como diretor financeiro e acabou de completar dois anos à frente do negócio -, apesar de a companhia não contar mais com a venda de eletrodomésticos, que ainda representavam 12% do faturamento na época em que a venda desses produtos foi descontinuada.

As confecções passaram a ser o foco. Essa aposta se deu por um motivo simples, segundo o executivo: a busca pela lucratividade, que começou a aparecer em 2017. “A operação de eletrodomésticos apresenta uma margem muito baixa, de cerca de 7%, enquanto a do vestuário gira em torno de 30%”, compara.

A companhia conseguiu ajustar a operação em um período adverso para o varejo brasileiro. No entanto, o consultor em varejo Marcos Gouvêa de Souza, da GS&MD, ressalva que a rede está correndo atrás do prejuízo, já que os problemas que enfrentava impediram que tirasse proveito do “boom” do varejo no início da década, como o fizeram grupos como Renner, Magazine Luiza e Riachuelo.

Leia a matéria original em: O Estado de S. Paulo

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