O avanço da tecnologia está acelerando uma tendência que é apontada como o futuro do varejo: a customização. É cada vez maior o número de empresas que oferecem ao consumidor a possibilidade de obter um produto exatamente ao gosto do freguês, seja um tênis, uma geladeira ou um computador. E os canais digitais estão potencializando essa oportunidade. A busca por produtos personalizados foi uma das dez tendências de consumo apontadas pela Euromonitor para 2018 e está sendo chamada de i-Designers, o que significa que o cliente participa do processo de produção.

— Essa tendência cresceu nos últimos quatro, cinco anos, e se tornou mais acessível com a tecnologia. A customização traz um diferencial e faz o cliente se sentir com um produto exclusivo — afirma Alexandre van Beeck, sócio-diretor da GS&Consult, do Grupo GS&Gouvêa de Souza, especializado em varejo.

Um dos casos mais representativos dessa corrente é o da Nike, fabricante de materiais esportivos. A empresa abriu em outubro passado uma megaloja em Xangai, na China, chamada de Casa da Inovação ou 001. Os clientes mais fiéis da marca podem ter sessões particulares com designers para personalizar seus tênis. Ou podem projetar eles mesmos seus calçados exclusivos em computadores no andar térreo, escolhendo do cadarço ao tipo de solado.

No último andar da loja, foi montado um estúdio para a produção desses tênis exclusivos. A Nike decidiu montar sua loja de inovação em um país onde há 600 milhões de pessoas na classe média e o consumo cresce a um ritmo frenético. As vendas no varejo da China devem manter crescimento acima de 20% este ano, segundo estimativas do Ministério do Comércio.

— Esse consumidor chinês hoje quer produtos mais exclusivos — diz Renata Thiebaut, brasileira radicada em Xangai, onde trabalha no grupo Alibaba, dono do AliExpress.

Um levantamento feito pela Euromonitor com mais de 20 mil pessoas em 21 países, incluindo o Brasil, mostrou que, entre os brasileiros, 25,5% estão dispostos a pagar mais por uma roupa ou acessório que seja desenvolvido especialmente para eles. É o mesmo patamar de chineses e de mexicanos e supera o de franceses (17,9%), alemães (16,5%) e ingleses (14,8%). E 43% dos entrevistados disseram que ser personalizado é um fator que influencia na hora da compra de uma roupa ou produto.

— A marca acaba entendendo melhor quem é o cliente e faz com que ele se aproxime mais, de uma forma particular. A customização acontece não só via produto, mas na forma de atendimento. O site Beleza na Web, por exemplo, faz recomendação dos itens mais adequados ao cabelo e ao corpo de cada cliente — comenta Van Beeck, da GS&Consult.

O avanço dos produtos personalizados não acontece apenas com roupas e calçados. Na Dell, fabricante de computadores, o modelo direto de venda da empresa pela loja virtual permite que o cliente customize o equipamento conforme sua necessidade. Há opções para quem vai usar o computador para jogar, por exemplo, ou para quem vai trabalhar. São centenas de configurações, incluindo placas de vídeo para jogos, mais ou menos espaço para armazenamento, processadores e resolução de tela, que transformam o produto num item exclusivo.

— Foi necessária uma curva de aprendizagem e adaptação do consumidor a esse modelo. Hoje, a receptividade é muito maior. A empresa também oferece uma central de atendimento por telefone e chat para que consultores especializados auxiliem o cliente na escolha da tecnologia que melhor atende a sua necessidade — conta Raquel Martins Braga, gerente de Marketing para Consumidor Final da Dell no Brasil.

De acordo com a consultoria IDC, com esse modelo, a Dell é líder em vendas na indústria de computadores desde o primeiro trimestre de 2015. No segundo trimestre deste ano, a empresa foi responsável por 23,9% das unidades vendidas pela indústria.

— A tendência de customização está sendo adotada em vários segmentos. É uma forma de sair do lugar comum, da produção em massa, e fortalecer a relação com o consumidor — diz Rodrigo Catani, consultor da AGR Consultores, especializada em varejo.

Ainda não existem números de quanto essa tendência movimenta em vendas no país. Mas Catani lembra que muitas empresas já vêm trabalhando com essa estratégia. Na fabricante de óculos Chilli Beans, o cliente tem a possibilidade de escolher a cor da lente e da haste em um computador, e uma máquina monta o produto em 20 minutos.

A Brastemp lançou no ano passado o refrigerador Inverse, de três portas, que permite que o consumidor faça múltiplas combinações das prateleiras, permitindo o armazenamento de produtos de diversos tamanhos.

— Com o uso mais intensivo de impressoras 3D, a tendência é que muitas iniciativas de customização se tornem viáveis, e esses produtos exclusivos fiquem mais baratos, já que ainda são mais caros que os produzidos em massa. É um mundo novo que começa a ser explorado — comenta Catani.

Leia a matéria original em: O Globo

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