A C&A vai precisar muito mais do que um IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) para mostrar que está na moda. As ações da varejista começam a ser negociadas na B3 no dia 28, mas ao contrário da Centauro, que abriu seu capital em abril, e da Vivara, que fez o mesmo movimento neste mês, menos recursos serão destinados à expansão da rede, que tinha 282 lojas no final do primeiro semestre.

Segundo o prospecto preliminar, a empresa espera uma captação líquida de R$ 861,3 milhões com a oferta primária, dos quais 90% – R$ 775,2 milhões – irão para o pré-pagamento de empréstimos entre empresas do mesmo grupo. Só 10% irão para expansão.

Só para comparar, dos R$ 772 milhões movimentados no IPO pelo Grupo SBF – dono da Centauro – 39% foram destinados para a reforma e abertura de lojas e fortalecimento do modelo de negócios omnichannel e 10% para reforçar o capital de giro. No caso da rede de joalherias Vivara, dos R$ 2,04 bilhões captados, R$ 455 milhões foram para o caixa da empresa.

“A estratégia da C&A é a de reduzir o endividamento para depois focar no crescimento”, diz Rafael Panonko, analista-chefe da Toro Investimentos. A dívida líquida da empresa, no final do primeiro semestre, era de R$ 2,35 bilhões.

O COO da consultoria GS&Gouvêa de Souza, Eduardo Yamashita, aponta que a estratégia tem uma lógica: reduzir o pagamento de juros para, posteriormente, usar os lucros para expandir os negócios.

“A abertura de lojas é só uma possibilidades que as varejistas têm para expandir os negócios. As empresas precisam entender bem o seu momento ao optar por determinada estratégia de destinação de recursos.”

Crescimento e imagem da C&A

Outro problema enfrentado pela C&A é o baixo crescimento das vendas. No comparativo entre os primeiros semestres de 2018 e 2019, a variação foi de 2,9%. O desempenho de suas principais concorrentes listadas na Bolsa foi melhor: as vendas da Renner cresceram 13,4% e as da Riachuelo, 4,1%.

“A empresa (C&A) até vem investindo na transformação digital e buscando ser omnichannel, se aproveitando da tecnologia para melhorar o controle de estoques e a experiência de seus clientes com base na análise avançada de dados. O problema é que tudo isso ainda é incipiente demais”, aponta relatório da Nord Research. Só 2% das vendas vem do canal online e 10 das 282 lojas fazem parte do programa de envio direto da loja.

Mas, segundo Patrícia Cotti, diretora-executiva do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e de Mercado de Consumo (Ibevar), a C&A pode ter ganhos em sua imagem com o processo de abertura de capital. “A marca ganha mais visibilidade e são reforçados atributos como confiança e transparência.”

Expectativa de maior crescimento

O movimento das varejistas em direção à Bolsa de Valores reflete uma perspectiva de maior crescimento do PIB no próximo ano, afirma o head de renda variável da Messem Investimentos, William Teixeira. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta uma expansão de 2% para 2020, a mesma feita por instituições ouvidas semanalmente pelo Banco Central (BC).

“O mercado está mais favorável e há um apetite grande para esses negócios”, explica o analista. Um dos fatores que está contribuindo para um maior fluxo de capital em direção às ações é a queda na taxa básica de juros. Já há instituições financeiras projetando a Selic a 4%, em 2020. Atualmente, ela está em 5,5%, o menor nível histórico.

A tendência é de que essas operações de IPO e de emissão de ações por parte de varejistas cresçam nos próximos anos, apontam os especialistas. “Muitas operações estavam engavetadas há alguns anos, por causa da crise”, diz Yamashita.

Matéria original publicada em: Gazeta do Povo

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