Parece tentador bradar aos quatro ventos que pretendemos tirar uns dias de folga para “esquecer do mundo”. Que estamos planejando uma viagem para nos desligarmos do trabalho e das preocupações e nos conectarmos com as pessoas, com a natureza, conosco mesmos. O discurso é belo – e, sabemos, mais do que necessário, já que cada vez mais somos escravos de nossos dispositivos digitais e, como consequência, perdemos importantes interações sociais e não vivenciamos na plenitude experiências que poderiam ser enriquecedoras, inesquecíveis e transformadoras. Mas, como diz a sabedoria popular, na prática a teoria é outra.

“Embora tenhamos total consciência de que precisamos nos desconectar, basta eu sugerir um destino remoto, como uma viagem para observação de gorilas em Ruanda, para o cliente logo perguntar: ‘Mas tem wi-fi lá, né?’”, diz Marina Gouvêa, CEO da Primetour, agência especializada em turismo de luxo e experiências. “Muito se fala sobre desconexão e detox digital, e as viagens para isso são uma tendência no exterior. Agora os brasileiros estão percebendo que, em uma viagem para descansar, eles têm de fato que passar a maior parte do tempo sem se conectar em seus smartphones ou tablets.”

Ficar um tempo offline é, comprovadamente, uma necessidade. Levantamento feito pela consultoria Deloitte mostra que mais de 60% dos brasileiros usam o smartphone para fins profissionais fora do horário normal de trabalho com alguma ou muita frequência. Mais de um terço dos entrevistados sente necessidade de conferir constantemente o telefone, enquanto 30% não conseguem dormir no horário pretendido ou se distraem com seus aparelhos ao concluir uma tarefa. E incríveis 68% pegam o celular quando ainda estão dormindo. “Há um movimento para que as pessoas se desconectem, mas também percebemos que elas são muito dependentes do wi-fi quando sugerimos um destino em que avisamos que não haverá sinal por alguns dias – elas ficam tensas”, afirma Gabriela Figueiredo, diretora da agência Matueté, produtora de viagens luxuosas. “No entanto, quando voltam, elas dizem que as experiências foram transformadoras. Outra coisa que costumam valorizar é o fato de os filhos também ficarem sem conexão.”

Gabriela lembra que há uma feira voltada para profissionais do turismo, a Remote, em que a proposta é justamente desconectar-se – se não por dias inteiros, pelo menos por várias horas do dia. “Assim, podemos nos concentrar nas relações que construímos lá. E elas acabam sendo muito mais fortes do que as de outras feiras onde temos conexão wi-fi o tempo todo.”

Marina Gouvêa, da Primetour, acredita que quanto mais a natureza se faz próxima e presente, mais conseguimos nos desligar. “Apesar do paradoxo de todo mundo só fotografar hoje usando smartphones, e não mais com câmeras fotográficas, esses locais em que há contato mais forte com a natureza realmente não combinam com o hábito de ficar no celular”, afirma. “Luxo é ter poder de escolha, é eu escolher que não vou permanecer conectado.”

Leia a matéria na íntegra em: Forbes

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