A crise econômica chegou ao batom: as mulheres estão comprando menos maquiagem. É o que mostra uma foto de cara limpa do segmento, historicamente resistente às recessões. Em um ano, três milhões de brasileiras — num universo de 70 milhões de mulheres — reduziram o consumo de pintura facial. No mesmo período, as vendas desses produtos encolheram 14,7% em unidades e 12,2% em valor.

Houve redução do volume de compras, substituição por marcas de preço mais acessível e preferência por produtos multifunção. Tem quem tenha cortado o make para evitar produtos testados em animais ou carregados em chumbo. E ainda as que decidiram encarar a rotina de cara lavada, na onda propagada pela cantora americana Alicia Keys, que abandonou a pintura facial de vez. É o caso da jornalista carioca Camila Gonçalves:

— Nunca fui muito de maquiagem, mas usava por razões estéticas e de insegurança. De uns tempos para cá, parei completamente. Primeiramente, por estar sem grana. Para mim, vale muito mais a pena usar o dinheiro que tenho para o que é mais importante. Estou cansada desse sistema que diz que temos que ser perfeitas o tempo todo.
Quem é fã do rosto produzido, contudo, dificilmente abre mão desse tipo de cosmético, como a gerente de contas carioca Clarice Rangel, de 28 anos. No entanto, ela passou a comprar maquiagem de forma cada vez mais seletiva e reduzida:

— Priorizar a qualidade reduz o consumo. Mudei muito a forma de comprar, buscando produtos naturais, orgânicos, sem metais pesados ou testados em animais. E estou terminando o que tenho antes de comprar outro item.
Para Claúdia Brito, líder de vendas da Natura na Baixa Fluminense, não há dúvidas de que o consumo de beleza está mudando:

— As clientes estão mais seletivas, preferem o produto que, além de maquiar, trata a pele, mesmo que seja mais caro. Também vejo clientes que reduzem a compra de maquiagem para comprar produtos para cuidar da pele do rosto.
A mudança nos hábitos é percebida no varejo, diz Walace Siffert, diretor comercial da Drogaria Venâncio:

— Percebemos a troca por marcas mais acessíveis e de melhor relação custo/benefício. A indústria está oferecendo mais produtos multifunção, como a água micelar (que limpa e trata a pele). Mantemos uma equipe de dermoconsultoras nas lojas da rede para indicar o que o cliente busca e pelo que pode pagar.
Assim como o varejo, a indústria tenta responder com agilidade à mudança no comportamento, diz Alexandre van Beeck, especialista em varejo da GS&Consult:

— Há estratégia clara para desenvolver produtos mais acessíveis e canais de venda mais próximos ao cliente. Como ter linhas de preço mais baixo, marcas com estrutura de custo menor, com quiosque, venda direta. É a estratégia do Boticário, por exemplo, que comprou a Vult e avança também com vendas tanto de sua marca principal quanto da Eudora no porta a porta.

A compra da Vult Cosmética pelo Boticário, em março deste ano, faz parte da estratégia multicanal e multimarcas do grupo, que já detém Eudora, The Beauty Box, Quem disse Berenice?, além da Multi B, empresa de varejo multimarca que responde por grifes como a Revlon. Mas não há uma receita única. Numa situação de retração no consumo, diz Beeck, a estratégia de atuação das empresas tem que se basear na demanda. O setor demanda inovação constante, avalia o consultor:

— A Natura, por exemplo, construiu sua reputação com a venda direta e hoje investe pesado em lojas físicas e em novas marcas. A indústria tem de ter agilidade. É um ambiente competitivo porque não há barreira a novos entrantes. A consumidora está aberta a experimentar. É preciso conhecer o cliente e inovar sempre.

Leia a matéria na íntegra em: O Globo

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