Em sua melhor fase, o Magazine Luiza registrou R$ 4,4 bilhões em vendas, nos últimos três meses de 2017. O resultado representa um crescimento de 31% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Somente as vendas digitais, grande destaque da companhia, cresceram 60% no período -no mesmo período o crescimento nas lojas físicas foi de 20%. No total, em 2017, o lucro líquido da empresa chegou a R$ 389 milhões -350% superior ao registrado no ano anterior.

Por trás de tamanho sucesso, houve por exemplo, um portentoso investimento de R$ 85 milhões em tecnologia, que resultou no desenvolvimento de soluções de entrega e reduziu significativamente o tempo de aprovação de crédito.

Atualmente, mais de 450 engenheiros e especialistas trabalham no LuizaLabs, centro de inovação do Magazine Luiza, onde são responsáveis pela melhoria da experiência de compra em todas as lojas físicas e nas plataformas digitais.

André Fatala, 36 anos, diretor de tecnologia da varejista, faz parte desse time. Autodidata, Fatala começou a estudar programação aos 13 anos e se apaixonou pela área de desenvolvimento web.

Mais tarde fez um curso técnico e deixou a sua cidade natal, Barra Bonita, no interior de São Paulo, com apenas 17 anos, para trabalhar no Submarino, em São Paulo.

Após passar por outra startup, a Predicta, Fatala entrou no Magazine Luiza em 2010, para integrar o time de TI e assumiu o compromisso de reformular o e-commerce da empresa e preparar a varejista uma vez por todas para a iminente revolução digital.

Na época, a loja virtual já começava a ter um volume de vendas mais relevante para a companhia, mas a parte de inovação não avançava.

Ao desenvolver a plataforma, Fatala criou um novo produto – o Magazine Você, que permite aos consumidores vender produtos da companhia virtualmente ganhando comissão. A novidade foi ao ar em apenas três meses com a ajuda de três pessoas. No quarto mês de funcionamento, mil pessoas já estavam cadastradas.

Num cenário otimista, Fatala diz que esperava a criação de dez mil lojas até o final de 2012. Porém, a meta foi alcançada em três semanas.

No ano seguinte, foi destacado para iniciar o Luiza Labs e tornou a área o epicentro da digitalização do Magazine Luiza, com 110 desenvolvedores, responsável por produtos como o Magazine Você, Quero de Casamento e aplicativo da companhia.

Hoje, Fatala comanda a área de tecnologia do Magazine Luiza. Em entrevista ao Diário do Comércio, durante o recente Latam Retail Show, em São Paulo, o executivo falou sobre o desafio de mudar o modelo de venda online da empresa.

Sua trajetória profissional é bem direcionada para tentar entender o comportamento digital dos consumidores. Quais foram suas principais descobertas até aqui?

O maior ponto foi ter a curiosidade de entender isso num ambiente que possibilita coletar muitos dados para responder algumas perguntas. Respeitando todos os dados anônimos de usuários é possível saber que há um número específico de pessoas com determinado comportamento. Então, me dediquei muito a pesquisar dados para desenvolver experiência.

Também é fundamental ter uma capacidade analítica, que pode te direcionar para possíveis acontecimentos. Assim, estudamos cada perfil, que, por exemplo, em 2007, representava 10% do volume do tráfego e hoje, é 40%. Busco ter uma visão global, para saber as tendências que estão rolando e ver se aquilo se repete no Brasil. É a partir daí que vão surgindo descobertas, que consigo entender alguns comportamentos para construir experiência. É o que faz uma hipótese evoluir ou não.

Até que ponto os consumidores querem ou priorizam a adoção de inteligência artificial no varejo?

Tenho uma visão bem particular em relação a esse tema. Não acho que os consumidores estejam preocupados. Para ele, o que interessa é a experiência. Tem muita gente que fala no nosso chatbot, e acredita ter ali uma pessoa. Ou seja, a inteligência artificial é muito válida para nós, como empresa. Não acho que alguém queira ir para uma loja e ficar conversando com um robô. Clientes querem solução. Se isso virá de uma pessoa ou de um robô, tanto faz.

Somos muito pragmáticos em ver porque algumas tecnologias nascem e qual a aplicação real delas. Posso usar a machine learning [método de análise de dados que automatiza a construção de modelos analíticos] para fazer um trabalho super repetitivo, como lançar pedidos de compras a nossos fornecedores porque identificamos um padrão de consumo e assim, você pode distribuir mil unidades de determinado produto para os centro de distribuição. As pessoas podem até gostar de tecnologia, mas não necessariamente querem ter contato com inteligência artificial. É muito mais importante a maneira como a usamos nos bastidores.

Muita gente confunde inovação com aquisição de tecnologia. Com base na trajetória do Magazine Luiza, como você acredita ser possível tornar a inovação acessível?

Não atribuímos inovação à tecnologia. Tem gente que acredita que para inovar você precisa de uma metodologia, tem gente que acredita ser preciso focar em uma área específica. Nós acreditamos na inserção de inovação na cultura da empresa.

O time de conciliação pode inovar a forma de trabalhar. Por isso, levamos o tema para a corporação como um todo. Muito do que conseguimos como resultado da companhia vem exatamente dessas áreas. Internamente, conseguimos otimizar muito como as coisas acontecem na companhia. O reflexo disso vai para o consumidor.

No entanto, vocês não nos verão colocando inteligência artificial no aplicativo. Não que isso não deva ser feito, ou que não seja um ponto de inovação, mas identificamos que ainda temos coisas muito básicas para inovar sem o uso de tecnologia. Às vezes, inovar é escrever um processo diferente, sem nenhum envolvimento com devices ou códigos. Conseguimos eliminar um ponto de fricção, simplesmente, observando a possibilidade de antecipar etapas, por exemplo, para facilitar a vida das pessoas.

Leia a matéria na íntegra em: Diário do Comércio

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