Misto de café com espaço de convivência, as novas lojas de plantas que têm surgido em São Paulo estão em sintonia com negócios fundados nos Estados Unidos e com um estilo de vida cada vez mais procurado pela população.

As pessoas estão em busca de um dia a dia mais leve, colorido e próximo a natureza mesmo morando em espaços cada vez menores.

A The Sill, fundada por Eliza Blank há sete anos rapidamente se tornou referência nesse mercado. Em entrevista à revista americana Forbes, Eliza se mostra confiante no poder das plantas. Segundo ela, podem aumentar o bom-humor de quem as cerca e fazem com que até mesmo o menor dos apartamentos se pareça maior e tenha mais aconchego.

Eliza cresceu numa casa cheia de plantas em Massachusetts, nos Estados Unidos e sentiu a diferença quando se mudou para um minúsculo apartamento num bairro industrial de Nova York.

“Toda vez que eu ia às compras de plantas no porão da Home Depot, eu me encontrava desejando uma loja de plantas dedicada”, disse Eliza à Forbes.

Seu desejo se tornou realidade em 2012, quando fundou a The Sill, uma loja online de plantas, que entregava suculentas e uma infinidade de espécies na porta das casas nova-iorquinas.

Pouco tempo depois, abriu sua primeira loja física, que foi ganhando fama. O negócio foi crescendo e já são quatro lojas com mudas que custam entre U$ 6 e U$ 60.

Com workshops semanais sobre tudo, desde terrários até como replantar mudas, a The Sill prega um espírito de comunidade. “As pessoas pegam seus telefones e nos mostram suas plantas, bem como seus animais de estimação. Estamos vendendo plantas para pessoas, não para eventos”.

Queridinho dos consumidores, em 2018, o negócio decolou e recebeu uma rodada de financiamento de US$ 5 milhões liderada pela Raine Ventures. No último ano, a empresa vendeu mais de 100 mil produtos.

RESPIRANDO AR PURO 

Ina Amorozo, 32 anos, e Jean Manuel da Silva, 35 anos, tiveram uma inspiração parecida no Centro de São Paulo. Professora de música e consultor de negócios, o casal queria ter mais tempo para a primeira infância dos filhos e também sentia falta de um lugar para comprar plantas sem aquelas embalagens típicas de floricultura com muito celofane e bichos de pelúcia.

Quando compravam algo no mercado, reclamavam de ter de fazer compras complementares em outros estabelecimentos -vaso, terra, pedra e areia. Queriam resolver tudo no mesmo lugar e com opções mais reais para o dia a dia de quem vive em um grande centro urbano.

Foi assim que surgiu o Jardin do Centro, a primeira loja do casal em uma espaço de 20 metros quadrados. “Tínhamos um pouco de dinheiro guardado e o aluguel cabia no nosso bolso”, diz Ina.

Em pouco tempo, mais que clientes, fizeram amigos. Sem saber, se instalaram numa rua repleta de escritórios de arquitetura e caíram na graça dos profissionais. Além de comprar o que vendiam, muitos frequentavam o local apenas para “respirar ar puro”.

Durante essas visitas, o casal observava o que os clientes pediam – um cafézinho em meio aquele verde, uma poltrona para ler um livro ou simplesmente deixar o tempo passar. Nos primeiros meses do negócio, Jean recebeu uma proposta irrecusável, um emprego em Dubai – para onde ele se mudou sozinho, enquanto Ina cuidava da loja.

Durante sete meses, Ina se dedicou ao Jardin e Jean aos estudos – o plano era voltar à São Paulo e abrir uma cafeteria. Tudo se alinhou perfeitamente. A loja ao lado ficou vaga, os clientes cada vez mais assíduos e Jean estava de volta ao Brasil.

“Quebramos uma parede e nos tornamos um espaço de convivência e de sossego repleto de plantas. Aos poucos fomos ampliando”, diz.

Hoje, são 500 m2 de Jardin do Centro, onde muitas plantas são comercializadas e onde são servidos almoços, doces, lanches e cafés. Por ali, passam famílias, idosos, crianças e jovens -todos apaixonados por natureza.

FLORESTAS TROPICAIS

Com um apelo de floresta tropical, essas lojas vendem muito mais do que plantas. De acordo com Luiz Alberto Marinho, sócio diretor da GS&Malls, esse tipo de loja reflete uma mudança no atual padrão de consumo – especialmente, por parte dos millenials.

Menos preocupados em consumir e acumular bens materiais, eles buscam ambientes mais humanizados e acolhedores, dos quais possam usufruir.

“Esse desejo se traduz num movimento de vida mais saudável, que acaba impulsionando negócios como esse”, diz.

Diferente dos garden centers e lojas de materiais, como Leroy Merlin e Sodimac, esses novos estabelecimentos são servidos por profissionais especializados, capazes de orientar sobre iluminação, água, poda, relação com animais de estimação, entre outras dicas.

Marinho também destaca que a ambientação das lojas diz muito sobre a experiência que o cliente busca. É como se a ida a loja funcionasse como uma espécie de inspiração sobre como reproduzir todo aquele verde dentro de casa.

Em terras americanas, o modelo se replica em tantos outros endereços. Em Portland, a Solabee Flowers and Botanicals e o Eden Floral Boutique, em Ohio são alguns exemplos. No Brasil, o movimento também está crescendo. Nos últimos anos, nomes como FLO Atelier, Botanista, Guacho Plantas, Modernista e Jardin do Centro engrossam a lista de negócios que seguem a mesma linha do The Sill.

Especializadas em jardinagem, essas casas não se parecem exatamente como uma loja de plantas. Na verdade, elas parecem ter sido decorados por muitos plantas –e é isso que tanto inspira os clientes. Não tem sujeira, água escorrendo ou terra esparramada pelo chão.

Com uma história semelhante à The Sill, a FLO Atelier Botânico começou dentro de um apartamento, onde o casal Antonio Jotta e Carol Nóbrega morava até abrir um ponto físico para atendimento, em 2015, na Vila Madalena, zona Oeste paulistana.

A loja é composta por terrários, arranjos e composições verdejantes que enchem os olhos e já valem a visita, sem contar que há ainda uma área na loja com seleção de chás, sucos prensados à frio, taças de vinho, e, é claro, flores para decorar toda essa degustação.

Um esquema parecido com o Modernista Coffe Stories –um café-jardim, na região Central que tem parte da loja dedicada à venda de plantas. No restante da loja, os clientes se espalham por mesas e balcões para se deliciar com cafés especiais e outros quitutes.

DICAS

Essa mistura de produtos e serviços é outra tendência, na opinião de Marinho. Em busca de solução, os clientes querem atendimento especializado e inspiração acima de variedade e bons preços.

“O varejo anda nessa direção. Agregar muitas coisas dentro de uma loja -em Nova York tem restaurante com loja de decoração, loja de moda com corner de jardinagem a fim de atender consumidores que resolvem mais coisas numa única visita”.

Para o consultor, a categoria de plantas tem pouca contra indicação e se mistura bem com a maioria dos negócios, como salões de beleza, lojas de roupa, alimentação e outros serviços -e pode ser um bom aliado para quem deseja aumentar o tíquete médio, pois além de tudo ainda torna o ambiente mais bonito.

Marinho esclarece que apesar de muito moderno, esse modelo de negócio não está restrito aos grandes centros urbanos e pode ser replicado em cidades menores, a partir de 150 mil habitantes.

O importante é considerar o perfil de cada cidade, o volume de pessoas com esse estilo de vida e o poder aquisitivo para esse tipo de consumo.

Leia a matéria original em: Diário do Comércio

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