Às vésperas da Páscoa, a Rede colocou o ovo em pé. Com seu movimento de isenção de taxa na antecipação de recebíveis do crédito à vista a empresa, ligada ao Itaú-Unibanco, alterou as condições que envolvem as transações com cartões de crédito no varejo e nos serviços e tomou a iniciativa de alterar de forma profunda, e irreversível, o negócio das credenciadoras.

Até alguns anos atrás esse era um negócio de poucos jogadores, muito concentrado e de resultados impressionantes. Por conta disso, as condições no Brasil para remuneração dos serviços, as taxas praticadas, e mais as regras de desconto eram totalmente desalinhadas com a prática internacional. Ainda que o mercado brasileiro tenha características muito particulares, envolvendo, entre outras, os “planos sem acréscimo”, uma de nossas jabuticabas setoriais.

A disputa binária Rede-Cielo do passado multiplicou-se com a participação de vários outros players como GetNet, SafraPay, PagSeguro, Stone e outras, o que precipitou uma reconfiguração do mercado, diluindo participação e tornando-o mais competitivo.

O inesperado e estratégico movimento da Rede balançou o setor como um todo, suscitando ações que foram da resposta de mercado do SafraPay à contestação da Stone, além da análise do Cade, através de um “procedimento preparatório de inquérito administrativo”.

Importante lembrar que a ação da Rede, ainda que com restrições na sua abrangência, dá seguimento a um processo que era irreversível de aumento da competitividade no setor e gera benefícios para os varejistas e empresas de serviços que se enquadrem nas condições e, em última análise, o próprio consumidor que indiretamente pagava parte da conta da concentração e das taxas praticadas já que tudo isso tinha que ser embutido no preço dos produtos e serviços.

Um mercado em profunda transformação

Em outubro do ano passado o IPO da Stone captou US$ 1,5 bilhões na Nasdaq e atraiu o próprio Alibaba para participar. Em Janeiro a PagSeguro havia captado US$ 2,27 bilhões, que foi considerado a quarta maior da história na área de tecnologia depois de Facebook, Alibaba e Snapchat.

Outro movimento importante foi o investimento em março deste ano de US$ 750 milhões da PayPal no Mercado Livre, plataforma que atua no e-commerce e quer expandir sua participação se posicionando como uma empresa de soluções financeiras e também pagamento com o Mercado Pago.

Sem dúvida um setor atraente e em profunda e iminente transformação, já que a ascenção e participação dos pagamentos móveis, através do celular, certificados ou não com reconhecimento facial, vai trazer disrupção em larga escala, se considerarmos o que já existe na China.

Ainda que quaisquer comparações diretas com o mercado chinês devam ser cautelosas e precisem considerar as particularidades do país, a eMarketer estima que em 2021, perto de 80% dos pagamentos por lá serão feitos por celular.

Em nossa realidade o movimento envolvendo o avanço de pagamentos móveis e mais essa maior concorrência no setor de pagamentos via cartões, reconfigura positivamente o cenário, reduzindo custos operacionais e transacionais, nos aproxima das práticas internacionais e torna o mercado mais competitivo, saudável e desenvolvido em benefício dos negócios e dos consumidores. Saudável competição!

Artigo original publicado em: DCI

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