RIO – A pandemia do novo coronavírus e o isolamento social daqueles que podem ficar em casa estão mudando os hábitos de consumo dos brasileiros. Os gastos com cartões de crédito e de débito em supermercados aumentaram, no dia 1º de abril, uma quarta-feira, em 25% na comparação com a média desse mesmo dia da semana em janeiro e fevereiro. Nas farmácias, o avanço foi de 10% na mesma data, segundo um levantamento da consultoria Elo Performance Insights. Outras pesquisas apontam alta das vendas de itens da cestas básica, higiene e limpeza.

Os dados levantados pela Elo consideram o período de 19 de março a 1º de abril (já sob o isolamento social para conter o avanço da epidemia de Covid-19 no país), comparando com as médias para os mesmos dias da semana registradas de 5 de janeiro a 22 de fevereiro deste ano (antes do primeiro caso de coronavírus no país).

Registros sobre quedas também permitem perceber como a Covid-19 está afetando setores específicos. O recuo nas vendas de materiais de construção, por exemplo, já chegava a 11% no primeiro dia de abril, já que obras não emergenciais foram adiadas. Nos postos de combustíveis, o faturamento dos cartões encolheu 31%, num momento em que muitos automóveis estão parados na garagem. Com shoppings e o varejo em geral de portas fechadas, gastos em lojas de departamento recuaram 54%. No segmento de vestuário, a queda alcança 78%.

Volta ao pior da recessão

No período avaliado, os dados mostram que o novo coronavírus deu uma rasteira no consumo em todo o país. Na média, o recuo nos gastos com cartões de débito era de 21% em 1º de abril — o pior dia foi 25 de março, com queda de 45%. No crédito, as baixas foram de 36% e 50%, respectivamente.

O consumo teve retração ainda maior nos estados de Rio e São Paulo, onde, em razão da maior concentração populacional, as medidas de distanciamento social são mais rígidas e há mais casos de coronavírus. Os gastos no cartão de débito caíram 26% em 1º de abril nos dois estados. No crédito, a redução foi de 40% na mesma data.

Para Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da GS&Malls, o Brasil regressou aos hábitos de consumo registrados em 2016, o pior momento da recessão econômica, quando ficaram preservados apenas gastos essenciais — justamente em supermercados e farmácias, e com artigos de limpeza e higiene em geral.

— Há dois movimentos paralelos que se somam. Um é a epidemia de coronavírus, o isolamento, o cuidado com a saúde. O outro é o impacto econômico dessa crise, as pessoas que já tiveram a renda reduzida e aquelas que temem perder renda ou até o emprego nos próximos meses — explica Marinho. — É parecido com o pior momento da recessão, com um consumidor receoso e aflito que opta por marcas mais baratas e corta qualquer extra.

O movimento do consumidor varia também conforme o momento do período de isolamento social e da variação regular de renda. No início do período de quarentena, por exemplo, em 19 de março, houve um aumento de 75% no faturamento de gastos com cartão de crédito em supermercados e de 60% em farmácias. No débito, o avanço foi de 50% e de 37%, respectivamente. Foi quando os brasileiros estavam estocando alimentos e medicamentos para cumprir o isolamento.

Mudança no pós-crise

Marinho destaca que o tombo nos gastos com artigos de vestuário vem do fechamento das lojas, mas também da força ainda não consolidada do e-commerce no país.

A categoria de turismo — travada em razão da suspensão de viagens e da malha de voos no Brasil e no mundo — registrou um tombo de 80%.

— Há gastos que serão ocasionais, como o de artigos para fazer exercícios em casa. Outros devem continuar pós-coronavírus, caso dos itens para escritório, porque muitos executivos e profissionais deverão passar a atuar de vez em home office. O varejo, principalmente o de vestuário, ainda não tem a penetração on-line como a da rede física. O certo é que, depois do isolamento, terá que apostar em promoções para atrair o consumidor — frisa o consultor.

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