Ainda que o começo do ano tenha trazido ao varejo a esperança da retomada, o cenário para a soma de 2018 segue delicado. Com a greve dos caminhonheiros, a renda comprometida e a baixa confiança do consumidor, o avanço do setor no ano fica atrelado a setores de necessidade básica – com as vendas condicionadas ao crédito podendo cair até 20% ante ao pico de vendas em 2014.
Para ele, a retração em alguns segmentos do varejo pode ser de 20% em relação ao ano de 2014. O motivo é a renda pressionada do consumidor brasileiro e a taxa de desemprego, fatores que inibem a compra de bens de consumo – como por exemplo os eletrodomésticos.
“Estamos enfrentando um nível de confiança do consumidor em queda, uma taxa de desemprego muito elevada e restrição de crédito às famílias”, argumentou.
Para ele, nem as datas comemorativas dos próximos meses – Dia dos Pais e das Crianças – darão fôlego para o setor, com todas as atenções dos varejistas voltadas para as datas posteriores à eleição, como Black Friday e Natal.
Na mesma linha, o sócio-diretor da consultoria Gouvêia de Souza, Jean Paul Rebetez, diz que a greve dos caminhoneiros “derrubou” o ensaio de recuperação do varejo – gerando um redução no bom humor do consumidor e aumento brusco de preços.
“Acredito que ninguém se comprometerá em grandes financiamentos. Os produtos de linha branca, por exemplo, não devem apresentar crescimento acentuado”, afirmou.
Dólar e política
O economista da FecomércioSP diz que outro fator relevante no curto e médio prazo o setor é a alta do dólar – principalmente nos segmentos dependentes de importação. O resultado pode pressionar o patamar atual de preços destes produtos e atrapalhar os planos dos comerciantes para o período de Natal.
Ainda nessa linha, Rebetez considera que lojas de material esportivo – as quais dependem em grande parte de importação – devem sentir com mais intensidade o aumento no preço até o final do ano. Porém, ele lembra que muitas empresas têm ainda estão com estoques grandes, com a possibilidade de “controlar” valores inflados pelo do câmbio.
Para o diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Nuno Fouto, o ambiente político pode é um dos grandes vilões contra a evolução das vendas do varejo para o segundo semestre.
“O mercado não tem o porquê retroceder mais. Uma das coisas que atrapalha a retomada é a instabilidade política. Com a eleição presidencial se definindo e o cenário mais claro, as coisas devem se equilibrar”, antecipa Fouto.
Ele explica que, em função do “vácuo” na economia criado pela paralisação de maio, o desempenho do varejo deve ser menor do que o registrado em 2017. Segundo Fouto, os sinais de uma retomada “consistente” serão vistos só em 2019.
Segundo a última edição do Índice de Confiança do Consumidor, realizado pela Fundação Getúlio Vargas, o otimismo em relação à evolução da economia para so próximos seis meses caiu 3,6 pontos – chegando a 107,1 pontos –, o menor patamar desde agosto de 2017 (105,7 pontos).
Embora as atenções estejam voltadas para a eleição de outubro, ele diz que as datas comemorativas Black Friday e o Natal devem oxigenar o setor. “Vemos muitas promoções no segundo semestre, independentemente da sazonalidade. Ele pondera que os bens de consumo – como eletrodomésticos – comercializados nesses períodos podem ser afetados pelo câmbio. “O segundo semestre, geralmente, é mais forte em termos de venda que o primeiro”, diz.
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