*Por Marcos Gouvêa de Souza

A crescente inclusão de operações de alimentação nos novos conceitos de lojas que têm sido lançados em todo o mundo, e também no Brasil, é um dos temas mais consistentes no atual cenário dos setores de varejo e shoppings centers.

O fato é que parcela crescente dos dispêndios com alimentos das famílias tem migrado para o que é produzido fora de casa conjugado com a necessidade de agregar mais experiência e relacionamento nas lojas e shoppings, que explica em parte essa tendência.

Importante lembrar que apenas alimentação fora do lar, no conjunto dos dispêndios com alimentação em geral, representa 36% no Brasil e 48% nos Estados Unidos.

Mas também contribui a realidade de que a internet e o e-commerce têm reduzido o tráfego nas lojas e centros comerciais e esses espaços têm tido menor demanda no mercado.

Mas o conceito técnico de alimentação fora do lar precisa ser ampliado para integrar essa combinação de gastronomia com alimentação, experiência, relacionamento, lazer, interação, conexão e entretenimento que caracteriza os novos formatos que têm surgido.

Poderíamos falar, em síntese, talvez, do entretenimento multi-gastronômico.

Como o que tem sido proposto por Whole Foods em seus novos formatos, envolvendo área de degustação, cursos e alimentação, combinados com alimentos produzidos e oferecidos “on demand” para consumo local ou “to go”, assim como um bar dentro da loja com dezenas de alternativas de cervejas, vinhos e aperitivo, assim como ilhas de alimentos prontos para consumo na própria loja ou serem levados.

Tudo isso não muito diferente do que a rede Mariano’s, de Chicago, adquirida pela Kroger ou como a Wegmans. Ampliar, diferenciar e investir na alimentação fora do lar com essa visão amplificada.

Os exemplos se multiplicam. A loja da Tommy Bahammas, na 5ª Avenida, em Nova Iorque, incorporou o bar de acesso interno ou externo direto.

A Ralph Lauren há um bom tempo agregou restaurante e bar na loja central de Manhattan, além de ter feito o mesmo em suas unidades em Paris, Chicago e Londres.

As recém inauguradas 10 Corso Como e RH, também em NY, colocam a área de alimentos, entretenimento e gastronomia ocupando algo entre 20 e 25%, aproximadamente, da área total das lojas.

Mudando de geografia é importante reconhecer que esse movimento nasceu na Europa, com a reconfiguração dos espaços das tradicionais lojas de departamentos, re-alocando suas áreas de alimentação que desceram dos andares mais altos para ocuparem os espaços mais nobres do térreo, como fizeram Harrod’s, Selfridges, Waitrose e outras na Inglaterra, assim como Galleries Lafaiette, Printemps e mais recentemente Monoprix, na França.

Na França o tema motivou a Auchan a desenvolver conceitos de restaurantes e bares com operação própria independente, Flunch e na Alemanha, com movimento similar nas lojas Karstadt, Kaufhaus e KaDeVe.

Ou, na mesma direção, El Corte Inglés na Espanha ou em Portugal. Na recém reconfigurada loja de Lisboa do El Corte Inglés, alimentação, combinada com gastronomia e entretenimento, passou a ser, talvez, a maior âncora da loja, com espaços no subsolo, agregado ao hipermercado e mais outro espaço dedicado no último andar, reproduzindo modelo que tem implantado na maioria de suas lojas.

No Brasil esse movimento tem sido mais limitado à incorporação de cafés ou bares em algumas operações de lojas de varejo e serviços (barbearias, cabelereiros e outros) e está muito atrasada na reconfiguração de espaços para atender demandas emergentes no setor de super e hipermercados.

Nesses a visão ainda é bastante limitada à oferecer mais do mesmo, sem uma proposta estratégica mais ambiciosa.

Nos shoppings já é flagrante a transformação contingencial.

Com menor demanda do varejo tradicional, os principais desenvolvedores têm investido e ampliado as áreas para essa combinação do entretenimento multi-gastronômico que conjuga ao mesmo tempo alternativa para ocupação de espaços com a oferta de opções para um mercado em rápida e irreversível transformação.

Como quase tudo na vida, oportunidade para uns conjugada com ameaça para outros. Vale pensar!

Leia o artigo original em: Proxxima

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