Falta de fluxo não é: anexo a um terminal de ônibus e a uma estação da Linha Azul do Metrô, circulam por lá mais de 2 milhões de pessoas diariamente. Mas oferecer um serviço de delivery para que seus clientes comprem sem sair de casa é a nova estratégia do Shopping Metrô Tucuruvi para melhorar essa experiência.

O empreendimento, localizado na Zona Norte da capital paulista, acaba de fechar parceria com a startup colombiana Rappi, o famoso aplicativo de delivery que promete entregar de tudo em até uma hora.

Serviço bastante comum em operações de alimentação, agora o delivery será estendido a qualquer uma das mais de suas 230 lojas, sejam elas do segmento de moda, livrarias, beleza, conveniência ou eletroeletrônicos.

“A ideia é proporcionar conveniência para os atuais clientes e atrair novos, dos shoppings concorrentes ou até de outras localidades “, diz Fabrício Cunha, gerente de marketing regional São Paulo do Grupo Sapphyr, que administra o shopping, e do próprio empreendimento, que acredita que o novo serviço não deve reduzir o fluxo de público, e sim aquecer, já que há 3 milhões de pessoas em seu raio de abrangência (Zona Norte).

O shopping também foi o primeiro do Brasil a assinar um contrato do tipo com a Rappi, baseado em sua estratégia de negócio voltada à inovação – desafio assumido para torná-lo multicanal e conectado, diz Cunha.

“Não adianta impor a esse novo consumidor uma forma de fazer compras; o ideal é ter muitas ferramentas e canais disponíveis para que ele possa comprar – e estar conosco – em qualquer momento e de qualquer lugar.”

Além da presença do Shopping Metrô Tucuruvi no aplicativo, os clientes poderão interagir com uma central de entregas da Rappi dentro do empreendimento para ter acesso a um atendimento personalizado.

“Levaremos nossos personal shoppers (espécie de assistentes pessoais) para ajudar os clientes em todas as compras que quiserem fazer”, afirma Camila Velzi, chefe de desenvolvimento de negócios da Rappi no Brasil, que reforça que o delivery deve englobar todos os serviços possíveis para facilitar o dia a dia dos usuários.

O projeto em parceria com a Rappi começou a ser implantado na segunda quinzena de fevereiro, e estará disponível para uso a partir desta sexta-feira (1º de março), a princípio só para os clientes da Zona Norte. Os valores que os clientes pagam pela entrega variam, saindo do shopping até o destino selecionado, com custo inicial de R$ 4,90.

Por ser um piloto, ainda não há projeção sobre o número de consumidores que podem ser alcançados e fidelizados pela parceria com a Rappi, segundo o gerente Fabrício Cunha.

“Temos 3 milhões de pessoas só no entorno do empreendimento. Se atrairmos pelo menos uma boa fatia disso, vai ser um golaço”, afirma. O plano é que a iniciativa seja replicada nos 11 shoppings do grupo no Brasil.

FAZ SENTIDO? 

Em 2017, uma pesquisa do banco Credit Suisse apontava que, em cinco anos, de 20% a 25% dos shoppings americanos – cerca de 250 empreendimentos -estariam fechados. E por uma razão  muito clara: a mudança de comportamento do consumidor, aliada à conectividade e ao avanço do e-commerce.

Se a previsão tem se confirmado nos Estados Unidos, onde o mercado é mais do que amadurecido, no Brasil o cenário é oposto: há shoppings se adaptando a esse novo ambiente multicanal e conectado, adotando estratégias não só para melhorar a experiência de compra do consumidor, mas para continuar na briga.

Além do próprio Metrô Tucuruvi, o Parque D. Pedro Shopping, de Campinas (no interior paulista), anunciou recentemente parceria semelhante com a Rappi, que também deve ser replicada nos outros cinco shoppings do portfólio da Sonae Sierra Brasil, segundo o diretor executivo de operações André Lupo.

Mas há outros exemplos de empresas do setor que têm adotado esse tipo de estratégia como a gigante do setor BR Malls, que em 2018 fechou uma parceria seguida de investimento com a Delivery Center, plataforma que integra diferentes sites de e-commerce a lojas de shoppings para fazer a entrega física. Ou ainda a CCP Cyrela, que criou um marketplace que unifica os produtos de 300 lojas residentes em seus sete shoppings.

A ideia de todas é uma só: integrar o varejo físico ao online. “O futuro do varejo não permite mais analisar o cenário pela lógica da (escritora) Cecília Meirelles, do ‘ou isso ou aquilo’. Tem que ser pela dos Titãs (grupo paulistano de rock): tudo ao mesmo tempo agora”, compara, de forma bem-humorada, Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da GS&Malls (braço da GS&MD Gouvêa de Souza especializada em shopping centers).

No caso do shopping da Zona Norte paulistana, Marinho diz que o consumidor precisa se acostumar e, num primeiro momento, a maior demanda deve ser por alimentação, já que a logística da Rappi é muito orientada nesse sentido. Na sequência, serão itens de conveniência, como farmácias ou artigos de uso imediato e, por último, compras que independam de experiência física, como um perfume, por exemplo.

“Esse é o ponto: primeiro ele vai pedir comida. Porém, se amanhã ele procurar outra coisa num shopping e ele não oferecer essa conveniência, a tendência é pular para o colo do concorrente.”

Mas, em um período em que o varejo brasileiro de shoppings atingiu altos índices de vacância, e a tentativa de atrair fluxo foi um dos grandes desafios do setor, faz sentido virar uma espécie de “centro de distribuição” – e fazer os consumidores comprarem à distância? O especialista é taxativo: sim.

“É um caminho sem volta. Para o consumidor, não há diferença entre o físico e o online. Se o shopping insistir em abrir mão desse território digital (como nos Estados Unidos) vai perder venda, espaço e preferência.”

Leia a matéria original em: Diário do Comércio

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