Não basta mais só reciclar. A cobrança de governos, consumidores e investidores por atitudes ambientalmente responsáveis está levando multinacionais a darem um passo atrás para preservar o futuro. Os antigos cascos de refrigerante, galões de leite e todo tipo de embalagem retornável estão, aos poucos, substituindo os plásticos nas prateleiras de supermercados e na dispensa dos consumidores.

Em janeiro, gigantes do consumo de massa, como Coca-Cola, Nestlé, PepsiCo, Unilever, Danone, Procter & Gamble, entre outras, num total de quase 30 empresas, lançaram uma iniciativa global para venderem seus produtos em embalagens retornáveis. Por meio de uma plataforma chamada “Loop”, elas começaram a oferecer em algumas cidades dos EUA um sistema de logística reversa, com caminhões para entrega de produtos e recolhimento das embalagens pós-uso.

O sistema, que permite também compras on-line, não tem previsão de chegar ao Brasil. Mas, por aqui, o consumidor já começa a ver nas gôndolas do varejo várias opções de produtos do dia-a-dia em embalagens retornáveis.

No Brasil, um quinto das vendas do refrigerante Coca-Cola já é feito em embalagens retornáveis, seja em garrafas de vidro ou em RefPet, um tipo de PET mais resistente e que pode ser utilizado até 25 vezes. Há cinco anos, essa fatia era de só 5%. A meta da empresa para o Brasil é que esse tipo de embalagem chegue a 30% em 2020.

No âmbito global, a Coca-Cola tem como meta coletar e reciclar o equivalente a cada garrafa ou lata que vende até 2030.

— A Coca-Cola começou há 130 anos com uma garrafa retornável. Na América Latina, países como Brasil, Chile, México e Argentina já trabalham bastante com esse tipo de embalagem. Historicamente, países emergentes nunca descontinuaram a operação de retornáveis, porque é uma embalagem financeiramente acessível, cerca de 30% mais barata que a de plástico pet descartável — explica Andréa Mota, diretora de Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil.

Para incentivar o uso de retornáveis, algumas empresas facilitam a entrega da embalagem pelo consumidor. A linha de águas Bonafont, da Danone, por exemplo, utiliza há oito anos galões retornáveis de 10 litros e 20 litros. Através do aplicativo de celular Bonafont em Casa, o consumidor aciona a equipe de distribuição, que vai à casa do cliente recolher a embalagem vazia e entregar um galão novo cheio.

— Hoje, os retornáveis representam 50% das nossas vendas de água. Além disso, também investimos em reciclagem: coletamos 78% das embalagens que produzimos em 2018 para reciclá-las — explica Lígia Camargo, diretora de Sustentabilidade e Comunicação da Danone.

Por ano, o Brasil produz mais de 78,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos, dos quais 13,5% — o equivalente a 10,5 milhões de toneladas — são de plástico. Se o total desse montante de plástico fosse reciclado, seria possível retornar cerca de R$ 5,7 bilhões para a economia, segundo levantamento do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb).

Não somente embalagens de RefPET, um tipo de pet reutilizável, fazem parte do escopo de embalagens retornáveis. A cervejaria Ambev, por exemplo, oferece garrafas de vidro retornáveis que demoram mais para se tornar resíduo.

— Desde 2014, investimos para ampliar a presença de garrafas de vidro retornáveis no mercado. Ampliamos o portfólio com o lançamento das garrafas de vidro retornáveis de 300ml de Skol, Brahma e Antarctica e, para facilitar a troca das embalagens minirretornáveis, investimos na instalação de mais de mil máquinas de coleta em todo o país — informa Mariana Bazzoni, especialista de Sustentabilidade da Cervejaria Ambev.

A Pepsi, cuja logística de  envase e a distribuição é feita pela Ambev, também oferece aos consumidores a opção de garrafas de vidro retornável, em embalagens de 1 litro e de 284 ml.

Para especialistas, a tendência das empresas em apostar em iniciativas a favor do meio ambiente, como o uso de retornáveis, vem de uma mudança de comportamento do consumidor, que passou a ter uma maior consciência ambiental e a exigir essa postura das empresas das quais é cliente.

— Antes achávamos que os recursos que eram intermináveis. Hoje em dia existe uma postura muito grande do consumidor em procurar saber das empresas para onde vai o que é produzido por elas. Não só o cuidado com a embalagem, mas entender todo o ciclo dos produtos feitos por essas empresas — destaca Cristina Souza, diretora-executiva da GS&Libbra, empresa especializada em foodservice do Grupo GS&Gouvêa de Souza.

Leia a matéria na íntegra em: O Globo

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